Relatório "histórico" afirma que IRA renunciou ao terror

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"Acabou a campanha de terror do IRA " e isso implica que está "aberta a porta" para um acordo definitivo na Irlanda do Norte , concluiu ontem o chefe do Governo britânico, Tony Blair. O primeiro--ministro reagia à publicação de um relatório de quatro peritos independentes, onde se conclui que o IRA renunciou definitivamente à luta armada. O documento surgiu em altura crucial para as negociações de paz na região.


O 12.º relatório da Comissão Independente de Observação afirma sem ambiguidade que o Exército Republicano Irlandês ( IRA ) "está agora fortemente envolvido numa estratégia política, rejeitando o terrorismo e outras formas de crime". A conclusão produziu grande satisfação em Londres e Dublim.


Segundo os peritos, o " IRA desmantelou as suas estruturas militares, incluindo o quartel-general, os serviços responsáveis pelo aprovisionamento em armas, a engenharia e o treino de militantes". Em suma, a organização clandestina deixou de ter capacidade para produzir bombas e abdicou de manter um orçamento.


O veredicto do grupo de peritos justifica novas pressões de Londres e Dublim sobre os principais actores do processo de paz da Irlanda do Norte .

Acima de tudo, poderá anular as fortes desconfianças dos unionistas em relação às boas intenções dos activistas republicanos, embora nesta fase seja ainda pouco claro se desapareceu o problema do chamado " IRA Verdadeiro", um grupo obscuro que continua actividades criminosas.


Na capital irlandesa, as conclusões deste "relatório histórico" foram definidas como de "importância capital". O primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, explicou que o texto provava que "a situação de segurança na Irlanda do Norte mudou de forma radical". O ministro britânico na Irlanda do Norte , Peter Hain, usou quase a mesma fraseologia, falando em "mudança irreversível e sísmica".


Na próxima quarta-feira iniciam-se na Escócia negociações sobre as instituições políticas da Irlanda do Norte , envolvendo católicos e protestantes. As discussões encontram-se paradas e, caso não reiniciem, todo o processo de paz estará comprometido. Ontem, Ian Paisley, líder democrata unionista (DUP), o principal partido protestante da Irlanda do Norte , disse que queria encontrar-se com os autores do relatório, para discutir o tema da "criminalidade do IRA " e para saber se os progressos eram mesmo "irreversíveis". Segundo Paisley, o relatório é consequência das pressões do seu partido.


Por seu turno, o Sinn Fein criticou o DUP. Para o líder republicano, Gerry Adams, a principal formação unionista só poderá tentar ganhar tempo, "mas não pode alterar o processo de mudança".


Na Irlanda do Norte , a paz tem limite temporal de 24 de Novembro, estabelecido por Londres, e o maior obstáculo continua a ser a desconfiança entre os cinco partidos, sobretudo entre DUP e Sinn Fein. Incapazes de se entender sobre a partilha de poder na comissão do governo, católicos e protestantes estão na prática a adiar a passagem de poder do parlamento britânico para a assembleia norte -irlandesa.

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